As estruturas de macrociclo, mesociclo e microciclo fazem parte da periodização do treinamento e nos auxiliam a realizar a separação do treinamento em períodos específicos. Nesta postagem, vamos abordar as características do macrociclo de treinamento a partir do modelo clássico de Matveev. Você verá os seguintes tópicos:
– Macrociclo e sua significância dentro da periodização do treinamento
– Quanto tempo duram as fases do macrociclo
– Macrociclo e sua estrutura no planejamento não desportivo
Macrociclo e sua significância dentro da periodização do treinamento
O macrociclo é a maior fração do treinamento e corresponde ao período de treinamento em questão. Ele pode variar de 4 meses a até 4 anos, no chamado macrociclo olímpico. Em geral, são feitos com planejamentos anuais de treinamento.
Em geral, quando se fala em planejamento do processo de treino, alunos de graduação e até mesmo profissionais da Educação Física começam a pensar diretamente nos exercícios que serão realizados. Isso acaba sendo um erro, pois o macrociclo é o primeiro aspecto a ser planejado, visto que a periodização deve partir de uma visão geral para uma visão mais específica dos componentes do processo de treino.
Desta forma, pensamos primeiro em macrociclo, depois nos seus mesociclos, em seguida nos microciclos que compõem cada mesociclo e, por fim, nas sessões de treino dos microciclos e os exercícios que farão parte das sessões.
As fases do macrociclo
Para que você possa elaborar adequadamente um macrociclo, é necessário conhecer a sua estrutura. O macrociclo é dividido em fases, que possuem algumas características definidas e cada uma destas fases também deve ter os seus objetivos muito bem estabelecidos, pois são estes objetivos que irão direcionar a carga de treinamento, os métodos, meios e exercícios utilizados em cada uma das sessões de treino.
Basicamente, quando você elabora um macrociclo, você deve estabelecer a sua duração, depois dividir as suas fases, também com suas durações e estabelecer os seus objetivos.
O macrociclo possui as seguintes fases ou períodos:
– Período pré-preparatório
– Período preparatório (básico e específico)
– Período pré-competitivo
– Período competitivo
– Período de transição
Esta estrutura de treinamento, por tratar de competição, é utilizada em âmbito esportivo, especialmente em formação esportiva. Quando Matveev elaborou esse modelo de treinamento, as competições eram mais espaçadas do que são hoje. Este modelo preconizava ter períodos mais longos de preparação que permitiam 1 a 3 picos no ano, sendo 1 a 2 o uso mais comum.
Quando se trata de alto nível, este modelo não é o mais adequado, pois as competições são mais frequentes e a performance deve ser regular, o modelo em bloco é mais indicado.
Período pré-preparatório
O Período pré-preparatório envolve muito da organização prévia do processo de planejamento. Quando tratamos da preparação de atletas de modalidades individuais ou equipes desportivas, temos que realizar a adequação dos locais de treino. Onde serão realizados os treinos específicos da modalidade, o que há de disponível para a preparação técnica e tática, quais as estruturas necessárias e disponíveis para a preparação física, para a recuperação dos atletas etc.
Além da organização para o treinamento, o período pré-preparatório também é caracterizado pela avaliação física dos atletas. Repare que a realidade de um treinador que lida com um atleta de modalidade individual como atletismo ou corrida e já realiza o planejamento de treino deste atleta terá uma realidade difere, por exemplo, de uma equipe de futebol com novo treinador e que contratou a maior parte do seu elenco neste ano. A comissão técnica desta equipe, em especial o técnico e o preparador físico deverão coletar informações suficientes a respeito do seu plantel de jogadores para que possam tomar as melhores decisões em relação ao planejamento.
Esta avaliação inicial é fundamental como parte do planejamento do treinamento, pois vai ditar muitas das diretrizes que treinadores irão tomar. O treinador deve conhecer muito bem todas as metas funcionais para seus atletas, envolvendo as capacidades condicionantes e coordenativas e habilidades básicas e específicas que a modalidade demanda. Este processo inicial de avaliação vai demonstrar onde estão as necessidades de preparação em termos de cada uma destas capacidades e habilidades para que o direcionamento do processo de treino seja realizado. Sem este conhecimento, basicamente um treinador aplica um processo de treino e torce para que resultados sejam atingidos.
Período preparatório
Este período, como o nome sugere, é utilizado para realizar a preparação de atletas para as demandas tanto básicas quanto específicas de uma modalidade. Por isso, o período preparatório é dividido em etapa básica e específica.
A etapa básica é um momento de começar a preparar o atleta para que ele construa progressivamente a sua forma física. Nesta etapa, ainda não há grande preocupação com os aspectos mais específicos e que se aproximem da realidade de demandas da modalidade. O objetivo é construir o que chamamos de lastro funcional, um conjunto de adaptações que permite que, posteriormente, as adaptações sejam transferidas para as especificações da modalidade. Por exemplo, a força máxima é uma capacidade básica que deve ser trabalhada em qualquer modalidade que demande força, em suas mais variadas manifestações. Mesmo que um atleta não realize movimentos de força dinâmica máxima no seu esporte, ela vai servir como base para que ele treine a força de maneira mais específica, como a força rápida de aceleração e salto. Para exemplificar, um jogador de basquete não vai realizar movimentos com o padrão de velocidade do agachamento durante um jogo, mas a força que deve ser desenvolvida neste período básico será transferida para o movimento de salto, com o treino da força rápida de salto. O atleta não poderia treinar a força rápida de salto na etapa específica sem atingir as metas de força dinâmica máxima na etapa básica.
Já a etapa específica, como o nome sugere e como algumas informações foram antecipadas, deve se aproximar da realidade da modalidade e ser utilizada para a transferência do que foi treinado na etapa básica. Esta etapa é caracterizada não apenas pela predominância de treinos que se aproximam mais da realidade da modalidade como também pela maior intensidade nos treinos. Nela, os exercícios são utilizados para ajudar os atletas a resolverem as tarefas específicas da competição, por isso também envolvem situações táticas de resolução de problemas. O objetivo do final desta fase é que o atleta esteja em condições físicas muito próximas de participar de competições.
Períodos pré-competitivo e competitivo
O período pré-competitivo é utilizado para realizar alguns ajustes finos em relação à preparação de atletas. Ele também tem uma importância muito grande no que diz respeito à preparação do aspecto competitivo. Quando atletas estão fisicamente aptos em relação à modalidade, ainda devem se preparar para os aspectos mais característicos da competição, que envolvem descargas adrenérgicas elevadas e tomadas de decisão. Por mais que um atleta tenha se preparado em termos de níveis de força e capacidade aeróbia, acertar um chute com o estádio cheio em um jogo decisivo e o time prestes a ser eliminado altera drasticamente o seu desempenho.
As competições que são realizadas neste período podem ser chamadas de preparatórias. Nelas, ainda não há a necessidade de se atingir o primeiro lugar ou então ganhar um jogo treino. Elas servem para os testes de aspectos técnicos e táticos e para a preparação de atletas a um ambiente mais competitivo.
O período competitivo compreende os momentos em que se participa da competição principal ou competições principais, aquelas que foram cuidadosamente escolhidas para que se apresente o pico da performance dentro do macrociclo e se obtenha a melhor chance possível de resultado. Neste período do macrociclo, os atletas, quando possível, realizam treinos para a manutenção do seu nível atlético atingido até o período anterior.
Período de transição
Este período aparece no macrociclo logo após o período competitivo e encerra o macrociclo. Logo após este período, um novo macrociclo é iniciado. Para que o pico de desempenho seja atingido, atletas passam muito tempo treinando com alta intensidade desde o período preparatório específico. Além disso, o estresse das competições, caracterizado pelas descargas adrenérgicas e outros fatores, acabam por gerar desgaste no organismo e os atletas devem se recuperar. Este período é caracterizado, portanto, por uma drástica redução tanto no volume quanto na intensidade do treinamento, para que o organismo se recupere. Ele não tem a intensão da supercompensação, que permite a melhora do condicionamento físico. Você pode pensar nesse período como as “ferias” de atletas.
Quanto tempo duram as fases do macrociclo?
Quando falamos da periodização do treinamento, alguns aspectos administrativos invariavelmente interferem na duração das fases. Por exemplo,
Macrociclo e sua estrutura no planejamento não desportivo
Este planejamento não desportivo é uma adaptação do modelo de Matveev que fizemos e utilizamos com alunos não atletas, no âmbito de academias, clubes, personal training etc. Eles não participam de competições e por isso alguns períodos não são necessários, pois o seu processo de treino não visa desempenho maximizado em algum período do ano. Inclusive, é comum que estas pessoas não precisam de planejamento de treino, apenas pelo fato de que não participam de competições, mas isso está errado. Todo treinamento exige planejamento.
Quando estamos neste âmbito, teremos 3 períodos:
– Período pré-preparatório. Também chamamos de incorporativo. É utilizado para a anamneses e todo o processo de avaliação física inicial que permite o diagnóstico do aluno e aprendizado de alguns exercícios.
– Período preparatório. Também pode ser chamado de período de treinamento, em que começamos com uma fase básica, onde é construído o lastro funcional deste indivíduo e em seguida a fase específica, onde vamos construir o necessário para as tarefas laborais, cotidianas e de lazer motor dos indivíduos.
– Período de manutenção (estabilização). É o último período do planejamento não desportivo. Entramos nesta fase quando atingimos os objetivos estabelecidos com determinado aluno e agora vamos fazer a manutenção dos objetivos, em termos de capacidades condicionantes e coordenativas, composição corporal, postura, quadro clínico etc. Só é possível determinar que alguém está nessa fase quando se estabelece os objetivos e se tem um processo muito bem definido de avaliação que determina se os objetivos foram atingidos.